Nunca uma turma de escritório fora
tão assídua como aquela. Sofia, às vezes, observava de longe a turma de amigos
que sempre às sextas-feiras visitava o bar que herdara da tia. Sempre animados,
ao redor da mesa de sinuca ou no campeonato de dardos, os nós nas gravatas
desfeitos, as canecas e os copos sempre à mão, os risos soltos, alguns beijos
por acolá e a conta sempre alta.
O AQUARELA BAR era um bar estilo
americano, com balcão corrido, garrafas em prateleiras que tornavam o bar uma
locação cinematográfica, mesa de sinuca tradicional e jogos de dardos
espalhados pelo salão, que não era tão grande. O serviço impecável, e o
cardápio bem elaborado apesar da simplicidade, uma JUNKE BOX ao canto e uma
música que embalava as noites dos clientes.
Aquela sexta-feira ia ser
diferente para Sofia, depois de um término de noivado doloroso e penoso, a dona
do bar queria distância de relacionamentos amorosos, pelo menos por enquanto. Com
uma calça jeans tradicional, um relógio grande Cartier clássico dado pelo pai
quando terminou a faculdade de Administração (que nunca tirava do braço esquerdo)
pendia sobre seu pulso razoavelmente magro, o cabelo preso meio desgrenhado,
mas, excessivamente belo e atraente, uma blusa preta que deixava suas costas
seminuas, definitivamente uma bela mulher. Seus olhos, grande e amendoados,
eram doces e sutis, revelando uma personalidade atraente, mas fechada em si
mesma, longe das cantadas dos seus clientes. Sofia era gentil, culta,
inteligente, sensual, tinha gestos fortes, mas não eram agressivos, quando
recebeu a conta da mesa de sexta-feira (como ela apelidou a mesa dos amigos de
sexta), um guardanapo fora junto daquela vez.
Quando recebeu de Claudio, o
pequeno objeto preto com o dinheiro da conta, Sofia observou um guardanapo
dobrado destinado a ela. Com um sorriso no canto da boca, sabia o que já iria
ler, ou pelo menos podia imaginar. Não era a primeira vez que Sofia recebia
bilhetes de clientes, a maioria relatando sobre sua beleza e altivez, às vezes,
ela até gostava dos recadinhos, mas outras, quando os homens já tinham
consumido um pouco mais de álcool, algumas palavras eram grosseiras e
indelicadas, esses, ela nunca terminava de ler, fazia questão apenas de olhar a
assinatura. Carlão, o segurança do bar, era o braço direito de Sofia, conhecia
a menina desde criança, quando frequentava o bar para visitar sua tia. Viu
Sofia crescer e passou a trabalhar para a garota, não havia no bar ninguém mais
amigo e companheiro para Sofia do que Carlão. Ele era forte e grande, mas com
ela, conseguia ser doce e manso, sua estatura alta metia medo aos usuários mais
atirados, mas nunca precisou fazer uso da força.
O AQUARELA BAR era considerado um
lugar pacato, os clientes eram antigos e os novos apareciam por indicação dos
velhos, fora eleito por guias da cidade como um dos melhores bares tradicionais
da região, o segredo?! Ninguém sabia. Sofia abriu o guardanapo, observou a
letra diferente das anteriores, mais arredondada, mais feminina. Sofia ficou
curiosa e fitou a mesa, a grande e animada turma já estava em pé, muitos
olharam para Sofia para despedir-se e ela sorriu educadamente, mas, um olhar fixo
não parava de encará-la, com vergonha, baixou a cabeça e continuou a ler o
bilhete, surpresa, percebeu que ao final, a assinatura era feminina, Sofia
levantou a cabeça, procurou novamente a mulher, mas a turma dispersara-se, sem
graça, ficou vermelha e resolveu guardar o bilhete no bolso.
(PUBLICADO EM: 29/07/2012- @TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)